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Esquizofrenia

Definição

A esquizofrenia é um distúrbio mental, uma psicose crônica ou recorrente encontrada principalmente nos jovens adultos que pode causar deterioração da capacidade funcional a longo prazo.

Etimologicamente, esquizo vem do grego e significa separação, e frenia, estado de espírito. Eugen Bleuler (1857-1939), um psiquiatra suíço nomeou a doença caracterizada por uma dissociação mental com transformação da personalidade.

A psicose é uma ruptura na realidade que se manifesta através de uma combinação de delírios, alucinações, comportamento caótico e pensamentos desorganizados / incoerentes. Outras doenças podem tem como característica a psicose e deve ser descartado antes de se fazer o diagnóstico de esquizofrenia.

As causas desta psicose são complexas e poderiam ocorrer por diversos fatores biológicos, sociológicos e psicológicos.

O tratamento desta doença evoluiu bastante, uma vez que antigamente os internos eram tratados por eletrochoque e hoje eles recebem medicamentos psicotrópicos da classe dos neurolépticos.

Estima-se que cerca de 1% da população sofra de esquizofrenia, isto representa, por exemplo:

– No Brasil, cerca de 2 milhões de pessoas

– Na França, cerca de 630’000 pessoas

Esta doença é muito comum, atinge pessoas sem distinção culturais, econômicas ou sociais.

Geralmente a doença inicia-se entre 15 aos 50 anos de idade.

Epidemiologia

Em todo o mundo a OMS estima que este grave distúrbio mental afeta 24 milhões de pessoas (dados de 2011), aproximadamente 0,3% da população mundial.

Mundo
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a esquizofrenia afeta aproximadamente de 0,5% a 1% da população mundial.

Causas

As causas da doença são complexas e ainda hipotéticas. Acredita-se que elas seriam de ordem biológica, sociológica e psicológica.

– Causas biológicas: Os esquizofrênicos que sofrem alucinações (distúrbios positivos)  teriam um aumento da atividade dopaminérgica (a dopamina é uma substância que intervém na transmissão nervosa). Os neurolépticos (medicamentos psicotrópicos) são utilizados para aliviar estes doentes.
Novo fármaco promissor mata o câncer estimulando a produção de proteínasSabemos que os genes podem ter fator no surgimento da esquizofrenia. Em gêmeos identicos, se um gêmeo é afetado, a probabilidade de o segundo gêmeo sofrer de esquizofrenia é entre 30% e 50%.
Existem pelo menos 108 genes associados à esquizofrenia, de acordo com o Schizophrenia Working Group of the Psychiatric Genomics Consortium.
Em um grande estudo realizado com gêmeos, pesquisadores da Universidade de Copenhague descobriram que em cerca de 79% dos casos, a esquizofrenia pode ser explicada por causas genéticas. Mais de 30 mil pares de gêmeos nascidos depois de 1870 foram estudados graças ao banco de dados dinamarquês de registro de gêmeos  Danish Twin Register. Este estudo foi publicado em 30 de agosto de 2017 online na revista científica Biological Psychiatry (DOI: 10.1016 / j.biopsych.2017.08.017).

– Origens sociológicas e psicológicas: Aparentemente alguns dos fatores desencadeadores seriam problemas na infância e no meio social. O doente teria sofrido alguma fragilização durante os seus primeiros anos de vida por perturbações afetivas intensas nas suas relações familiares, principalmente com os pais. E posteriormente, sob o choque de algum acontecimento tardio porém intenso, ele sucumbiria à doença. Outros fatores sociais podem ser causadores, tais como: o isolamento moral e condições sociais pouco favoráveis. Em outras palavras, traumas físicos ou emocionais durante a infância podem estar na origem da esquizofrenia1.

– Origens “toxicológicas”: Alguns especialistas acreditam que a maconha poderia favorecer a esquizofrenia, no entanto existe um debate controverso sobre esse assunto, se ela seria um revelador ou uma causa profunda da doença.

– Origens genéticas: Aparentemente o risco de desenvolver a esquizofrenia é maior para pessoas com familiares com esquizofrenia e distúrbio bipolar. Estudos indicam que o gene NRG1 pode estar associado à esquizofrenia.

Inflamação, possível causa

Alguns pesquisadores acreditam que a esquizofrenia pode ter, em alguns pacientes, uma origem inflamatória. Na realidade, os cientistas observaram que 40% dos pacientes psiquiátricos tinham níveis excessivos de moléculas típicas de uma reação inflamatória (por ex. citocinas, proteína C-reactiva) no seu sangue.

É por isso que os psiquiatras não hesitam em prescrever medicamentos anti-inflamatórios não-esteróides (AINEs) como a aspirina ou o celecoxib para completar o tratamento de doenças psiquiátricas, como a depressão.

Um parasita. Numerosos estudos têm mostrado uma correlação entre pessoas que sofrem de esquizofrenia e a presença do parasita Toxoplasma gondii, que causa a toxoplasmose. Isso significa que mais pessoas com esquizofrenia têm o Toxoplasma gondii em seus cérebros do que aquelas sem esquizofrenia. Podemos citar um estudo realizado com soldados americanos publicado em 2008 no American Journal of Psychiatry (DOI: 10.1176/appi.ajp.2007.06081254).

Grupos de risco

A doença inicia essencialmente em jovens adultos, homens ou mulheres (entre 15 e 34 anos).

A esquizofrenia é 0,4 vezes mais frequente em homens do que mulheres. Isto significa que a cada 12 esquizofrênicos, 7 são homens. Os homens aparentemente apresentam sintomas mais cedo e possuem um prognóstico(curso da doença) pior do que as mulheres.

A esquizofrenia pode ser hereditária, portanto, uma pessoa que tem um histórico da doença na família corre um risco maior de desenvolvê-la.

Sintomas

A esquizofrenia é caracterizada por distúrbios na personalidade, como alucinações ou isolamento social (uma forma de autismo), bem como reações emocionais extremas que não têm relação com o contexto (risos durante um funeral, por exemplo). Há uma perda de contato com a realidade.
Os três sintomas característicos da doença são: dissociação, delírio e autismo.
Dissociação
A dissociação afeta as áreas intelectuais (distúrbios do pensamento, incoerência na expressão), afetiva (pela expressão de sentimentos contraditórios, sem relação com o contexto) e psicomotora (maneirismos: movimentos físicos sem naturalidade, que vão desde um comportamento catatônico até movimentos excessivos).

Sintomas “positivos” (delírios)
Durante seus delírios ou “sintomas positivos”, a pessoa sofre de alucinações frequentes, podendo ouvir vozes. Ela pode ter a sensação de estar sendo controlada por forças externas e se despersonalizar completamente. Ela vive em um clima de ansiedade.

Sintomas “negativos” (forma de autismo)
Durante seus “sintomas ou distúrbios negativos”, a pessoa se fecha e se isola do mundo exterior. Ela fica apagada, retraída e imersa em seu próprio mundo. O tempo gasto com amigos e familiares pode diminuir drasticamente. As conversas são evitadas. Os sintomas negativos incluem falar em um tom monótono, falta de contato visual e linguagem corporal rígida.

Falta de concentração
O desempenho escolar, o emprego e as responsabilidades domésticas podem começar a ser negligenciados à medida que os pensamentos se afastam da realidade.

Aparição dos sintomas:
Os sintomas geralmente se manifestam lentamente e pioram ao longo de vários meses ou anos.

Primeiros sintomas: 
As oscilações de humor podem se tornar mais frequentes quando uma pessoa entra nos primeiros estágios da esquizofrenia. Ela pode parecer mais irritável ou zangada. O medo do mundo ao redor pode aumentar. Suspeitas podem se transformar em paranoia.

Idade de início da doença:
O início da esquizofrenia geralmente ocorre por volta dos 20 anos de idade. A esquizofrenia tende a se manifestar mais cedo em homens, entre o final da adolescência e o início dos vinte anos. Nas mulheres, a esquizofrenia geralmente aparece entre o meio dos vinte anos e o início dos trinta anos (mas o transtorno pode ocorrer em qualquer idade).

Diagnóstico

O diagnóstico é psiquiátrico, não há lesões características ou achados laboratoriais que confirmem a doença.

O médico irá efetuar uma anaminese, levando em conta os sintomas de psicose, deterioração funcional, o contexto de vida atual do doente, assim como predisposições genéticas (histórico familiar, hereditariedade). A possibilidade de outras doenças que levam a psicose deve ser descartada.

Algumas técnicas são usadas para se determinar a psicose, como entrevistas, observação do comportamento, relato de familiares e pessoas próximas.

O médico pode questionar o paciente perguntando se o mesmo escuta vozes, vê ou escuta coisas que os outros não, se sente seguido ou espionado, possui habilidades ou poderes especiais, se há pessoas escutando seus pensamentos e se estão tentando mandar mensagens secretas através de meios de comunicação em massa.

Complicações

A esquizofrenia é  uma psicose com diferentes sintomas (delírios, alucinações, distúrbios afetivos) e pode ser difícil para o doente e o seu entorno suportá-la.

Graças às pesquisas, o desenvolvimento dos neurolépticos (medicamentos psicotrópicos) reduziu as alucinações e ajudou o doente a voltar para a vida comunitária.

Aqui estão as diferentes evoluções possíveis:

– Formas contínuas: agravamento progressivo da doença

– Formas oscilantes: fases de remissão intercaladas com fases de agravamento da doença

– Controle: com possibilidade de retorno à vida comunitária, mas com apoio psicológico e terapêutico indispensáveis.

– Estado suicidário: o risco de suícido é alto nos esquizofrênicos

Algumas doenças estão associadas com a esquizofrenia:

Obesidade

Diabetes tipo 2

A esquizofrenia pode aumentar diretamente o risco de diabetes, de acordo com um estudo publicado em janeiro de 2017 na revista especializada JAMA Psychiatry. O risco de sofrer diabetes para pessoas com esquizofrenia seria 3 vezes maior do que entre a população em geral. Estes resultados vêm de um estudo realizado por pesquisadores do King’s College, em Londres. As pessoas que são afetadas pela esquizofrenia têm uma expectativa de vida inferior, de até 30 anos, quando comparado com o restante da população, principalmente porque esta doença psiquiátrica aumenta o risco de sofrer de um infarto ou acidente vascular cerebral devido à diabetes, como um fator de risco importante.

– Hiperlipidêmia (colesterol alto)

– Problemas cardíacos

Tratamentos

O tratamento da esquizofrenia evoluiu bastante ao longo dos anos, antigamente os doentes eram internados sem esperança de voltar para a vida comunitária e recebiam eletrochoques para tranquilizá-los quando estavam delirando.

Hoje em dia, o progresso científico e o desenvolvimento dos medicamentos trouxeram aos doentes a possibilidade de voltar a ter uma vida normal, acalmando as alucinações e os delírios.

Como a esquizofrenia não tem cura, um tratamento medicamentoso a base de anti-psicóticos (neurolépticos) deve ser mantido, assim como o acompanhamento psicológico (por ex: psicoterapia) e constante observação em relação a recaídas.

Embora não exista um tratamento curativo para a esquizofrenia, a doença pode muitas vezes ser bem gerenciada por meio de uma combinação de medicamentos, terapias de apoio e educação para a pessoa afetada e seus familiares.

É sempre preferível buscar tratamento para a esquizofrenia o mais cedo possível, ou seja, logo após o surgimento dos sintomas.

Os medicamentos e os cuidados da esquizofrenia

Os medicamentos utilizados no tratamento da esquizofrenia são essencialmente os neurolépticos e os antidepressivos.

– Antipsicóticos (neurolépticos): fazem parte de uma grande classe terapêutica, reagrupando várias classes medicamentosas como as fenotiazinas (clorpromazina, tioridazina, flufenazina, entre outras); os butirofenônicos (haloperidol) e os medicamentos atípicos (clozapina). Os neurolépticos agem na transmissão nervosa da dopamina e amenizam os delírios alucinátórios e os distúrbios comportamentais.

Com antipsicóticos, a maioria dos pacientes pode observar alguns dos sintomas graves de esquizofrenia, tais como alucinações, pararem após o primeiro mês de tratamento. No entanto, os resultados a longo prazo são pobres, com uma recaída em 80% dos pacientes, como revelou a Universidade de Manchester em um comunicado de imprensa sobre um estudo com da ingestão elevada de suplementos alimentares à base de vitaminas B e seu impacto positivo sobre os sintomas da esquizofrenia (saiba mais sobre os estudos de referência abaixo em Dicas) .

– Antidepressivos: como vimos na seção sintomas da esquizofrenia, a doença pode provocar angústias no doente. Esta classe de medicamentos alivia esse sintoma.

O tratamento psicológico do paciente inclui treinamento das habilidades sociais e reabilitação vocacional.

O tratamento psicológico também é recomendado para os familiares, educando e ajudando a família a lidar com os problemas da doença, preconceitos sociais e estresse. O tratamento da família ajuda a melhorar o estado do paciente.

Anti-inflamatórios e esquizofrenia

Como a esquizofrenia pode, em certos pacientes, ter uma origem inflamatória, alguns médicos prescrevem anti-inflamatórios não-esteróides (AINE), tais como a aspirina ou o celecoxib para completar a terapia. Leia também causas para mais informações.

Alguns médicos também utilizam às vezes a minociclina, um antibiótico que apresenta ação anti-inflamatória. Neste caso, não é a ação antibiótica que fará efeito, mas as suas propriedades anti-inflamatórias.

Dicas

– É fundamental que as indicações do médico sejam seguidas e que a medicação não seja interrompida de forma brutal.

– A maconha pode ser um desencadeador da esquizofrenia, portanto aconselhamos não consumir esta droga, principalmente se você estiver psicologicamente fragilizado ou se possuir antecedentes de doenças psíquicas na família. Estudos indicam que o consumo de maconha antecipa o surgimento de doenças psicóticas.

– Um estudo da Universidade de Manchester (Inglaterra) publicado em agosto de 2016 na revista especializada Schizophrenia Bulletin, mostrou que a prática regular de exercício físico aeróbico possibilita o aumento da saúde mental, a longo prazo, das pessoas sofrendo de esquizofrenia. Os cientistas observaram que após 12 semanas de exercício aeróbico, como correr ou andar de bicicleta, a função cerebral das pessoas com quadro de esquizofrenia aumentou significativamente. Para chegar a estas conclusões, os pesquisadores combinaram os dados de 10 estudos clínicos sobre este tema, totalizando 385 pacientes. Os pacientes que praticavam exercícios físicos e tomavam seus medicamentos contra a esquizofrenia melhoraram sua função cerebral mais do que aqueles que apenas tomavam a medicação. Sabe-se que a esquizofrenia pode conduzir a uma deficiência cognitiva e diminuir o desempenho do cérebro.

– Consumir altas doses de vitamina B, se você ou algum familiar sofre de esquizofrenia. De acordo com uma revisão de estudos (meta-análise) realizada mundialmente pela Universidade de Manchester na Inglaterra, tomar vitamina B em doses elevadas, incluindo vitaminas B6, B8 e B12 sob a forma de suplemento alimentar permite reduzir significantemente os sintomas de esquizofrenia, mais do que os tratamentos padrões sozinhos. Esta pesquisa foi publicada na revista especializada Psychological Medicine em fevereiro de 2017.

– Em 2024, um estudo iraniano publicado na Neuropsychopharmacology Reports2demonstrou que a administração conjunta de probióticos e vitamina D melhora significativamente as funções cognitivas de pacientes com esquizofrenia em um estudo controlado randomizado  duplo-cego. O medicamento probiótico/vitamina D em forma de cápsula continha Lactobacillus acidophilus, Lactobacillus rhamnosus, Lactobacillus reuteri, Lactobacillus paracasei Bifidobacterium longum, Bacillus coagulans e 400 UI de vitamina D. Neste estudo, os pesquisadores recrutaram um grupo de 70 voluntários, com idades entre 18 e 65 anos, afetados pela esquizofrenia.

Prevenção

– A maconha pode ser um desencadeor da esquizofrenia, portanto aconselhamos não consumir esta droga, principalmente se você estiver psicologicamente fragilizado ou se possuir antecedentes de doenças psíquicas na família.

Fontes (referências)
Universidade de Melbourne (Austrália)Schizophrenia Bulletin, Universidade de Manchester, Biological Psychiatry (DOI: 10.1016/j.biopsych.2017.08.017).

Redação:
Por Xavier Gruffat (farmacêutico)

Fotos: 
Adobe Stock, Criasaude.com.br

Atualização:
Este artigo foi modificado em 22.05.2024

Bibliografia e referências científicas:

  1. The Wall Street Journal, edição de 3 de janeiro de 2022
  2. DOI: 10.1002/npr2.12431
Observação da redação: este artigo foi modificado em 22.05.2024

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