Câncer colorretal
Resumo câncer colorretal
O câncer colorretal é uma doença maligna que atinge o intestino grosso e o reto. É um dos tipos de câncer mais incidentes no mundo, sendo responsáveis por diversas mortes. No Brasil, segundo o INCA, quase 30 mil pessoas foram atingidas com o câncer colorretal no ano de 2010, é o quarto câncer mais frequente no Brasil. As regiões Sul e Sudeste são as com maior incidência da doença sendo que o Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro são os estados com maior incidência da doença.
Suas causas ainda não estão totalmente esclarecidas, entretanto alguns fatores podem aumentar os riscos de desenvolvimento da doença, como histórico familiar de câncer colorretal e hábitos alimentares. Normalmente a doença é mais comum após os 50 anos de idade. Pessoas acima do peso, sedentárias e com doenças inflamatórias no intestino grosso são alguns dos grupos de risco da doença.
Os sintomas caracterizam-se por mudanças nos hábitos intestinais com dores abdominais, sangue nas fezes, gases, perda de peso repentina, dentre outros. O diagnóstico normalmente é feito por colonoscopia e biópsia. Complicações da doença incluem metástase (disseminação do câncer para outras regiões do corpo) e complicações advindas da cirurgia de remoção do tumor, como infecções e hemorragias.
O tratamento depende de quão avançado é o tumor. As principais terapias são cirurgia, radioterapia e quimioterapia (incluindo os chamados tratamentos inteligentes ou terapia-alvo). A imunoterapia, isoladamente ou em combinação com outro tratamento, às vezes é usada contra o câncer colorretal metastático1.
É importante ressaltar que o câncer colorretal, quando diagnosticado precocemente, tem altas chances de cura e de sobrevida do paciente. Portanto, se você tem mais de 50 anos, faça exames regularmente. Fique alerta também se você tem casos de câncer na família. Algumas dicas de prevenção são: controle o peso, mudanças de hábitos alimentares, consumo moderado de álcool e redução do tabagismo.
Definição
O câncer de cólon e reto ou câncer colorretal é uma doença maligna que se caracteriza por tumores que atingem o cólon (intestino grosso) e o reto (ultima porção do intestino grosso). Por muitas vezes, os tumores desenvolvidos são benignos, não caracterizando um câncer, chamados de pólipos adenomatosos. Entretanto, alguns desses pólipos podem se tornar tumores malignos.
O tipo mais comum de câncer colorretal é o adenocarcinoma colorretal, que se origina das glândulas presentes no cólon e corresponde a mais de 90% dos casos. Outros tipos linfomas (originário dos linfonodos do intestino grosso) e carcinoma espinocelular (de origem epitelial).
Epidemiologia
– O câncer colorretal é um dos mais incidentes no mundo, principalmente nos países desenvolvidos, sendo o terceiro tipo mais comum de neoplasia em ambos os sexos.
– Os norte-americanos são particularmente afetados por esse tipo de câncer, provavelmente por causa da alta taxa de obesidade e maus hábitos alimentares, como comer muito hambúrgueres, refrigerantes, etc. Nos Estados Unidos, país com mais de 300 milhões, são registrados cerca de 100.000 casos de câncer colorretal por ano e cerca de 50.000 mortes. Há ligeiramente mais homens que morrem desse tipo de câncer do que mulheres.
– Na Europa, é o câncer mais frequente. Há aproximadamente 430.000 novos casos a cada ano e mais de 200.000 mortes. De acordo com um comunicado da United European Gastroenterology (UEG) publicado em outubro de 2017, o câncer colorretal leva a cerca de 215.000 mortes a cada ano na Europa. De acordo com este comunicado, a pesquisa revelou recentemente que 3 em cada 10
diagnósticos de câncer colorretal envolvem pessoas com menos de 55 anos de idade.
Causas
As causas do câncer colorretal ainda não são totalmente esclarecidas. Alguns fatores apontados como possíveis causas desencadeantes do câncer colorretal são:
– Hábitos alimentares: dietas com alto conteúdo de gorduras e carne vermelha podem estar ligadas às causas do câncer.
Carne e câncer
Em 26 de outubro de 2015, a Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer (IARC), ligada à OMS, avaliou a carcinogenicidade do consumo de carne vermelha e carne processada.
– A IARC classificou o consumo de carne vermelha como provavelmente cancerígeno para os seres humanos. Esta associação (carne vermelha e risco de câncer) foi observada principalmente no que diz respeito ao câncer colorretal, mas outras associações também foram observadas para os cânceres, como de pâncreas e de próstata. A carne vermelha refere-se a todos os tipos de carne a partir do tecido muscular de mamíferos, como carne bovina, vitela, porco, cordeiro, carneiros, cavalos e cabras.
– Especialistas da IARC classificaram a carne processada como um carcinógeno aos seres humanos com base em provas suficientes de que o consumo de carne processada causa câncer colorretal em humanos.
Carne processada refere-se a carne que tenha sido transformado por salga, maturação, fermentação, defumação ou qualquer outro processo utilizado para realçar o sabor ou melhorar a sua conservação. A maioria das carnes processadassão de porco ou de vaca, mas os alimentos processados também podem conter outras carnes vermelhas, aves, miúdos ou subprodutos como sangue.
Ler : Consumo de carnes processadas aumenta o risco de câncer colorretal
– Mutações genéticas: assim como em outros cânceres, mutações genéticas nas células do intestino grosso e reto podem levar ao surgimento de tumores. Determinadas mutações podem ser transmitidas hereditariamente e correspondam a cerca de 20% dos casos de câncer. Algumas dessas mutações podem ainda ocasionar algumas síndromes que são responsáveis por aumentarem os riscos de surgimento da doença. Pessoas com casos de câncer colorretal na família têm mais chances de desenvolver a doença, sendo essa uma causa hereditária.
– Polipose Adenomatosa Familiar (FAP): é uma doença rara que causa o desenvolvimento de diversos pólipos (agregados de células pré-cancerosas com formato de cogumelo) no cólon e reto. Quando não tratada, essa síndrome aumenta as chances de desenvolvimento de câncer.
– Câncer Colorretal Hereditário Não-Poliposo (HNPCC): também conhecida como síndrome de Lynch, essa condição aumenta as chances de desenvolvimento de câncer colorretal, inclusive abaixo dos 50 anos de idade.
– Ficar sentado por muito tempo. Um estudo australiano publicado no American Journal of Epidemiology em abril de 2011 mostrou que trabalhar sentado por 10 anos aumenta em duas vezes o risco de desenvolver câncer colorretal em comparação com aqueles que não estão constantemente sentados em seus dias de trabalho.
Grupos de risco do câncer colorretal
As incidências demonstram que o câncer colorretal atinge tanto homens quanto mulheres. Dentro da população geral, alguns grupos de risco para a doença são:
– Pessoas acima dos 50 anos, uma vez que grande parte dos casos de câncer de cólon e reto são detectados nesses pacientes;
– Pacientes com histórico familiar de câncer colorretal ou pólipos;
– Pacientes com síndromes hereditárias que aumentam a incidência de câncer colorretal, como Polipose Adenomatosa Familiar e Câncer Colorretal Hereditário Não-Poliposo;
– Pessoas com dietas pobres em fibras e ricas em gorduras e carne vermelha;
– Obesos e sedentários;
– Pacientes com alto consumo de álcool;
– Fumantes, inclusive fumantes passivos;
– Pacientes com doenças inflamatórias do intestino, como a retocolite ulcerativa crônica e Doença de Crohn;
– Pacientes que já foram expostos à radiação ionizante, como na radioterapia.
É importante ressaltar que os pacientes que possuam um ou mais fatores de risco não necessariamente desenvolverão câncer. A doença tem uma fisiopatologia complexa que depende tanto de fatores genéticos quanto de causas ambientais. Cabe citar também que o câncer colorretal quando detectado precocemente tem altas chances de cura.
Sintomas
Os principais sintomas do câncer colorretal afetam principalmente o trato digestório inferior. Esses sinais normalmente incluem:
– Mudanças nos hábitos intestinais, como diarréias freqüentes ou constipações sem nenhuma causa aparente.
– Presença de fezes com sangue (melena).
– Hemorragia intestinal e anal.
– Sensação de que o intestino não se esvaziou após uma evacuação, com esforço ineficaz para eliminação das fezes.
– Dor abdominal inferior e na região anal.
– Presença de gases.
– Mudança na consistência das fezes.
– Perda de peso.
– Anemia (devido à perda de sangue).
– Fraqueza.
– Tenesmo.
O câncer colorretal quando detectado em estágios iniciais tem grandes chances de cura. É importante sempre estar alerta a esses sintomas principalmente se você faz parte de algum grupo de risco. Pacientes acima dos 50 anos devem conversar com o médico para realizar o exame de sangue oculto nas fezes. Pacientes com condições hereditárias ou doenças inflamatórias (retocolite ulcerativa crônica etc) devem conversar com o médico.
Diagnóstico
O diagnóstico do câncer colorretal é normalmente feito através da colonoscopia, uma endoscopia destinada ao cólon e reto. Quando alguma anormalidade é detectada, o médico pode usar o tubo de colonoscopia para fazer um pequeno procedimento cirúrgico e extrair parte do tecido para análise (biópsia). O procedimento de colonoscopia é feito com sedação do paciente e preparo do intestino para receber o tubo.
Veja a seção: Uma colonoscopia a cada 10 anos reduz em 40% o risco de câncer colorretal
Diferenças entre homens e mulheres em relação ao câncer colorretal
Entre os homens os tumores localizam-se mais perto do reto, já nas mulheres os tumores são localizados mais perto do cólon.
Como a colonoscopia é mais eficaz no reto do que no cólon, as mulheres possuem risco mais elevado de sofrer desse tipo de câncer, pois no momento da realização da colonoscopia os médicos são menos capazes de atingir o cólon. Para a revista mensal francesa Science &Vie (edição de agosto de 2014), que relataram as diferenças entre homens e mulheres na medicina, os médicos devem considerar esta informação e melhorar os métodos de rastreamento em mulheres.
Um estudo canadense demonstrou em 2010 que a colonoscopia em mulheres é menos eficiente do que nos homens, com acompanhamento de 3 anos após a colonoscopia.
Uma vez detectada a doença, exames de imagem auxiliam na detecção da extensão do câncer. Nesse caso, procedimentos de tomografia computadorizada e raio-X com contraste de bário podem ser necessários. Exames de sangue por vezes também são necessários para analisar marcadores oncológicos do câncer.
Exames histológicos determinam qual o estágio do câncer, que podem ser:
Mesmo após o tratamento, o câncer pode retornar, sendo esse um caso de recorrência da doença. Isso pode acontecer no cólon, reto ou em alguma outra parte do corpo.
Complicações
O câncer colorretal pode se proliferar, atingindo outros lugares do corpo e gerando novos cânceres em órgãos distintos (principalmente fígado). Outra complicação é a recorrência do câncer no próprio intestino grosso ou no reto.
Outras complicações do câncer colorretal podem advir do procedimento cirúrgico de remoção do tumor. Dentre elas, podemos citar: infecções, hérnia intestinal, hemorragias, isquemia e necrose (por obstrução de artérias e vasos), perfuração intestinal, dentre outras.
Tratamentos
O tratamento escolhido para o câncer colorretal dependerá do grau de lesão do tumor e da área atingida, além de ter ou não metástase. O médico poderá lançar mão de 3 estratégias principais de tratamento:
Cirurgia
Quando o câncer é pequeno e localizado, o médico poderá obter por fazer uma remoção cirúrgica da massa tumoral através do procedimento de colonoscopia. Se o tumor for maior, o médico poderá removê-lo por laparoscopia ou vídeo-laparoscopia.
Caso o câncer tenha crescido para a parede do intestino, o médico poderá optar pela colectomia, que é a retirada de parte do intestino grosso ou reto. Nesse caso, o cirurgião reconecta as partes restantes do intestino. Entretanto, quando isso não é possível, o paciente precisará de uma colectomia temporária ou permanente. Para a coleta das fezes, é utilizada uma bolsa especial.
Em casos muito avançados, o médico pode fazer uma cirurgia paliativa. Esse procedimento visa melhorar os sintomas do paciente, não curá-lo totalmente. Quimioterapia pode ser usada após a cirurgia paliativa para melhorar o prognóstico do paciente.
Radioterapia
A radioterapia usa raios altamente energéticos para destruir as células tumorais. Esse procedimento pode ser usado para matar as células tumorais remanescentes pós cirurgia, para reduzir o número de células antes da remoção cirúrgica (para serem removidas mais facilmente) ou para amenizar os sintomas do câncer.
A radioterapia é mais destinada para cânceres avançados e que penetraram em camadas mais profundas do intestino. Para evitar recorrência, a radioterapia normalmente é combinada com quimioterapia.
Quimioterapia
A quimioterapia se baseia na administração de medicamentos para matar as células tumorais. Esse procedimento pode ser feito antes ou depois da cirurgia, dependendo do estágio do tumor. Os médicos, antes de indicarem o tratamento quimioterápico, devem testar se o paciente tem mutação no gene KRAS uma vez que ela confere resistência a determinadas drogas.
Exemplos de fármacos utilizados para quimioterapia do câncer colorretal são o cetuximab, panitumumab, bevacizumab, 5-fluorouracila, oxaliplatina, leucovirina e irinotecano.
Imunoterapia
Desde a década de 2010, a imunoterapia às vezes é utilizada contra o câncer colorretal metastático 2. A imunoterapia chamada inibidores de checkpoint (pontos de controle) imunológico é uma das principais imunoterapia utilizada contra o câncer colorretal metastático. Os inibidores de checkpoint imunológico usados contra o câncer colorretal são o ipilimumab (Yervoy) e o nivolumab (Opdivo), eles são administrados por injeção (perfusão). Eles estão associados a redução do tamanho do câncer colorretal metastático com alta instabilidade de microssatélites (alterações no DNA das células) e a controlar seu crescimento3.
Dicas
Algumas dicas são importantes no caso do câncer colorretal:
– Se você possui mais de 50 anos, faça regularmente o exame de sangue oculto nas fezes. A detecção precoce do câncer colorretal aumenta suas chances de cura e a sobrevida do paciente. Um estudo publicado em outubro de 2017, ler também em Diagnóstico acima, recomenda iniciar o rastreamento aos 45 anos de idade.
– Fique sempre atento a seus hábitos intestinais. Se você perceber mudanças sem nenhuma causa aparente, procure um médico.
– Tenha atenção dobrada aos sintomas se você possui casos na família de câncer colorretal ou tem histórico de doenças inflamatórias intestinais, como doença de Crohn ou retocolite ulcerativa crônica.
– O tratamento quimioterápico ou radioterápico pode resultar em diversos efeitos colaterais. Converse com o seu médico para que ele possa indicar algum medicamento específico para náuseas, enjôos, vômitos, fraqueza, anemia etc.
– Se você for diagnosticado com a doença, procure apoio em seus amigos e familiares. Não encare isso como uma sentença de morte. Alternativas como yoga, meditação e atividades físicas ajudam o paciente a conviver com a doença e ter uma melhor qualidade de vida.
Prevenção
O câncer de cólon e reto quando diagnosticado precocemente tem altas chances de cura. Para pacientes prevenção câncer colorretalacima dos 50 anos, é indicado fazer anualmente o exame de sangue oculto nas fezes. Além disso, outros exames são indicados como sigmoidoscopia flexível (a cada 5 anos), enema duplo com contraste de bário (a cada 5 anos), colonoscopia (a cada 10 anos), colonoscopia virtual (a cada 5 anos), teste de DNA nas fezes.
Alguns hábitos de vida também podem ser adotados para se prevenir a doença:
– Comer porções de frutas e legumes, que são ricos em fibras alimentares e também consumir grãos integrais, se possível.
De acordo com um estudo publicado em março de 2015, na versão on-line do JAMA Internal Medicine, os vegetarianos apresentam menos riscos, cerca de 20% a menos, de desenvolver câncer colorretal em comparação com aqueles que consomem carne.
Ler: Consumo de carnes processadas aumenta o risco de câncer colorretal
– Beba álcool em moderação.
– Evite fumar.
– Pratique exercícios físicos.
– Controle o seu peso.
Algumas medidas preventivas são indicadas para pessoas com alto risco de desenvolvimento do câncer colorretal. Entretanto, essas medidas precisam de investigação. Converse com o seu médico para obter mais detalhes.
– De acordo com um estudo britânico publicado em 2014, a ingestão diária de 75 a 100 mg de aspirina reduz o risco de câncer de intestino em 35% após 10 anos do início do tratamento, o risco de morrer desse tipo de câncer diminuiu 40%. No entanto, o efeito protetor da aspirina somente se manifesta durante um período de tratamento de pelo menos 5 anos, se possível 10 anos. Para tratamentos mais curtos, os pesquisadores não observaram um efeito protetor significativo.
A ingestão diária de aspirina deve começar entre 50 e 65 anos, com acompanhamento médico.
Redação:
Por Xavier Gruffat (farmacêutico)
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Atualização:
Este artigo foi modificado em 14.10.2022
Bibliografia e referências científicas:
- Site canadense sobre câncer (Cancer.ca) de março de 2022, acessado pelo Criasaude.com.br em 22 de agosto de 2022
- Site canadense sobre câncer (Cancer.ca) de março de 2022,acessado pelo Criasaude.com.br em 22 de agosto de 2022
- Site canadense sobre câncer (Cancer.ca) de março de 2022,acessado pelo Criasaude.com.br em 22 de agosto de 2022