Intolerância à lactose
Artigo atualizado em: 13.01.2024 Autores: Xavier Gruffat (farmacêutico, ETH Zurique), Adriana Sumi (farmacêutica, USP) |
Resumo intolerância à lactose
A intolerância à lactose ocorre devido à ausência ou insuficiência da enzima lactase que digere este açúcar presente no leite e produtos lácteos. Ela pode ser devido à causas primárias (como hereditariedade) ou secundárias (lesões de células intestinais).
Os sintomas normalmente incluem doe abdominal, gases e diarreia e acontecem logo após o paciente ingerir produtos lácteos. O diagnóstico é feito por observação dos sintomas após a ingestão de leite ou derivados. O médico por requerer alguns exames como teste do hidrogênio expirado, endoscopia, exames de fezes, dentre outros.
A perda excessiva de água pela diarreia é uma das complicações. A pouca ingestão de cálcio e proteínas pode resultar em problemas ósseos. O tratamento é normalmente feito com modificação da dieta alimentar, substituindo produtos lácteos por outros alimentos com teor alto de cálcio, proteínas e minerais. O médico pode também indicar a tomada de lactase, enzima que digere a lactose.
Se você possui intolerância à lactose, certifique-se que os alimentos que você ingere têm baixo teor de lactose. Substitua por produtos ricos em proteínas e minerais, e consulte o seu médico caso precise e mais informações.
Definição
A intolerância à lactose é uma dificuldade para digerir a lactose devido à insuficiência ou ausência de uma enzima digestiva: a lactase, também conhecida como beta-D-galactopiranosil (1 → 4) D-glucopiranose.
A lactose é um açúcar encontrado no leite de mamíferos, composto por glicose e galactose.
Epidemiologia
Em aproximadamente 70% dos habitantes do nosso planeta, a láctase torna-se inativa a partir dos 6 anos. Em outros termos, cerca de 70% da população mundial sofre de ligeira ou mais aguda intolerância à lactose.
Os caucasianos do Norte da Europa são em geral pouco afetados pela intolerância à lactose, em virtude de mutações genéticas que possibilitam a produção de láctase durante toda a vida.
Nos Estados Unidos, a Mayo Clinic estimou em 20201 que cerca de 30% dos americanos têm dificuldade em absorver lactose (em inglês: lactose malabsorption).
Causas
Diminuição com a idade
Um indivíduo saudável utiliza a lactose como fonte de energia. Para absorvê-la, nosso corpo deve quebrá-la no intestino delgado em glicose e galactose, através da lactase ou beta-galactosidase. Essa atividade lactásica é máxima ao nascer e diminui gradualmente com a idade, diminuindo a partir dos 5 a 6 anos2. No entanto, em geral, um nível mínimo suficiente para digerir o açúcar do leite consumido é mantido.
Quantidade produzida e risco de acumulação no cólon
A produção insuficiente (hipolactasia) ou a ausência (alactasia) da enzima lactase no intestino delgado são fontes de intolerância à lactose. De fato, uma certa quantidade não decomposta de lactose permanece e é transformada em gás e ácido pelas bactérias que vivem no cólon (intestino grosso). São esses gases e ácidos que causam inchaço abdominal e dor. Além disso, esse resíduo de açúcar do leite (lactose) cria, por um processo de osmose, um influxo de água nos intestinos, amolecendo as fezes. Esse mecanismo resulta em diarreia.
Em pessoas com intolerância à lactose ou baixa atividade da lactase, até 75% da lactose não absorvida pelo intestino vai para o cólon3.
Três formas de intolerância à lactose
A deficiência de lactase pode ser primária, secundária ou congênita.
– Intolerância à lactose primária. A deficiência primária ou adquirida de lactase pode estar relacionada à hereditariedade (origem genética). É definitiva, e as células intestinais ou enterócitos permanecem intactas. Esta é a forma mais comum de intolerância à lactose. Desta forma, ocorre uma queda na produção de lactase, especialmente na idade adulta. A intolerância à lactose primária é influenciada pela genética. Alguns grupos étnicos têm maior risco: africanos ou afro-descendentes, latinos ou descendentes, habitantes do sul da Europa e da região do Mediterrâneo.
– Intolerância à lactose secundária. A deficiência secundária ou temporária ocorre após agressões como uma doença, lesões ou cirurgias que podem resultar em uma alteração celular reversível4. Essas agressões também podem ser causadas por fenômenos alérgicos, parasitoses, desnutrição, infecções ou pelo uso de certos medicamentos. As lesões são transitórias nesse caso. As doenças celíacas e a doença de Crohn também prejudicam os enterócitos. Nestes casos, os danos podem ser duradouros.
– Intolerância à lactose congênita. Nesta forma de intolerância à lactose, os sintomas ocorrem desde o nascimento, geralmente após a primeira amamentação. Isso ocorre devido a um gene defeituoso e é considerado raro. Se for um bebê prematuro, a intolerância à lactose é chamada de desenvolvimental. À medida que as células intestinais amadurecem, a condição melhora. No entanto, a doença deve ser diagnosticada rapidamente ao nascimento para evitar que o bebê sofra graves sintomas, potencialmente fatais.
Sintomas
Não é perigoso em adultos:
Exceto em recém-nascidos (intolerância à lactose congênita) se a doença não for diagnosticada corretamente, a intolerância à lactose não é uma condição perigosa ou grave para a saúde, mas os sintomas podem ser desconfortáveis.
Idade de início:
Os primeiros sinais ou sintomas de intolerância à lactose geralmente aparecem a partir dos cinco ou seis anos de idade (exceto para a intolerância à lactose congênita, uma forma rara que se manifesta desde o nascimento).
Principais sintomas:
A intolerância à lactose se manifesta principalmente através de diarreia, flatulência (inchaço abdominal), desconforto estomacal, dores abdominais, cólicas e/ou náuseas. A pessoa afetada também pode vomitar ou sofrer de constipação. Além disso, algumas pessoas podem apresentar sintomas menores, como fadiga crônica, depressão, tonturas, dores de cabeça, dores nas articulações ou problemas de concentração.
Momento do surgimento dos sintomas após o consumo de produtos lácteos:
Os sintomas principais ocorrem entre 30 minutos e 2 horas após o consumo de produtos lácteos5. Esse período de incubação pode durar até 2 ou 3 dias.
É importante notar que a intensidade e a rapidez com que os sintomas se manifestam variam de acordo com a quantidade de lactose ingerida, a taxa de produção de beta-galactosidase no intestino delgado, a forma de ingestão de leite ou seus derivados, o tempo de trânsito intestinal, o estado da flora intestinal (microbiota) e a saúde da pessoa. Assim, existe um limiar de tolerância individual para cada pessoa.
Observação:
Os sintomas da intolerância à lactose podem se assemelhar à síndrome do intestino irritável.
Diagnóstico
O diagnóstico de intolerância à lactose é feito com base nos sintomas após a ingestão de leite ou seus derivados. Esse resultado é confirmado por um médico após entrevista com o paciente.
É possível que o profissional de saúde prescreva um teste que se consiste em evitar produtos lácteos durante duas semanas, com ingestão após esse período. Se os sinais retornarem, é provável que seja deficiência de lactase.
Atualmente o teste do hidrogênio expirado, teste de lactose de carbono-13, endoscopia, biópsia, exames de sangue, fezes e respiração também são técnicas usadas em hospitais para diagnosticar a intolerância à lactose.
Também existem testes genéticos que podem identificar a intolerância à lactose.
Complicações
A maior complicação é a perda de água devido a diarreia e esta pode ser fatal, em especial para crianças pequenas.
Como o leite e produtos lácteos fornecem uma grande quantidade de proteína e cálcio, pessoas que se privam estão expostas às consequências da hipocalcemia, como retardo do crescimento e osteoporose.
Tratamentos
A dieta com baixo teor em lactose, ou seja, pouco leite, reduz os sintomas dos pacientes. A dieta sem lactose é a regra para quem não produz nenhuma quantidade da enzima. No entanto, o leite e outros produtos lácteos sem lactose estão disponíveis no mercado. Você deve saber que não é possível aumentar naturalmente a produção de lactase no corpo humano6.
No caso de uma intolerância primária, o consumo de até 240 mL de leite é geralmente bem tolerado. Mas a ingestão de uma quantidade maior requer o uso de medicamentos contendo lactase, que ajuda o corpo a digerir a lactose da dieta. Ela pode ser feita quer antes da refeição e é misturada com os produtos lácteos, a fim de prevenir os sintomas. Em geral, os medicamentos à base de lactase, vendidos na forma de comprimidos ou gotas, são vendidos sem necessidade de receita médica.
Além disso, os alimentos ricos em cálcio, proteínas e sais minerais são altamente recomendado.
Para intolerância secundária, o tratamento é a causa da doença de base sem restrição de leite, mesmo que a criança seja alimentada exclusivamente com leite materno.
A introdução gradual de leite na dieta pode também melhorar a tolerância.
Dieta
Os nutrientes do leite podem ser substituídas por outros alimentos. Por exemplo, carne, peixe, ovos, soja, feijão e algas marinhas fornecem proteína. Quanto às vitaminas, cálcio e sais minerais, estes podem ser encontrados nas amêndoas, avelãs, algas, nozes, figos, tâmaras, dente de leão, agrião, soja, marisco, cevada ou trigo germinado.
Dicas
– Certifique-se de que os alimentos e medicamentos que você consume não tenham ou possuam baixa quantidade de lactose.
– Iogurte e queijo cottage são melhor tolerados.
– O leite desnatado é mais agressivo do que o leite integral.
– Avalie o seu próprio limite máximo após cada ingestão de produtos lácteos.
– Divida a ingestão de produtos lácteos em pequenas quantidades ao longo do dia.
– Certifique-se de que os nutrientes do leite estão presentes no alimento substituto.
– Coma alimentos ricos em cálcio, tais como ostras, sardinhas enlatadas com ossos, laranja, folhas verdes, algas, soja, feijão e outras leguminosas.
– Misture o leite com outros alimentos.
– Coma alimentos que contêm probióticos. Os probióticos são ricos em bactérias “boas” e podem melhorar os sintomas de intolerância à lactose. Você pode encontrá-los, por exemplo, em iogurte, sucos, bebidas de soja, em cápsula, comprimido ou em pó.
– Consulte o seu médico se:
> Você sofre repetidos surtos de diarreia com dor abdominal e inchaço.
> Você precisa de outros conselhos práticos.
Fontes:
Mayo Clinic.
Redação:
Xavier Gruffat (farmacêutico)
Ultimo update:
20.10.2023
Bibliografia e referências científicas:
- Livro em inglês: Mayo Clinic on Digestive Health, How to prevent and treat common stomach and gut problems (Mayo Clinic na saúde digestiva, como prevenir e tratar problemas comuns do estômago e intestino), 4ª edição, Sahil Khanna, M.B.B.B.S., 2020, Mayo Clinic
- Revista “Vida e Saúde”, revista brasileira sobre saúde, edição de agosto de 2023 (nº 01016)
- Revista “Vida e Saúde”, revista brasileira sobre saúde, edição de agosto de 2023 (nº 01016)
- Boletim informativo da Escola de Medicina de Harvard, edição de outubro de 2022
- Livro em inglês: Mayo Clinic – Book of Home Remedies – Segunda edição, Cindy A. Kermott, Martha P. Millman, 2017, Mayo Clinic
- Livro em inglês: Mayo Clinic on Digestive Health, How to prevent and treat common stomach and gut problems (Mayo Clinic na saúde digestiva, como prevenir e tratar problemas comuns do estômago e intestino), 4ª edição, Sahil Khanna, M.B.B.B.S. , 2020, Mayo Clinic